A forma como vemos o tempo passar é relativa. Para algumas pessoas, uma determinada tarefa ou atividade pode ser realizada como algo rápido, enquanto, para outras, pode durar uma eternidade. Mas de que forma isso acontece? Um novo estudo pode ter as respostas.
Publicada em revista científica Natureza Comportamento Humano na segunda-feira (22), um pesquisa mostrou que a forma como o cérebro processa a informação visual e a a percepção do tempo é influenciada pelo que observamos. As descobertas podem oferecer novas ideias sobre como as pessoas vivenciam e controlam o tempo.
No experimento, a percepção do tempo que os participantes passaram vendo uma imagem foi notada de forma diferente a depender do tamanho grande, desordenado ou abrangente era o conteúdo da imagem. Além disso, de acordo com o estudo, as pessoas tinham uma maior chance de se lembrar de imagens que pensaram ter visto por mais tempo.
“Há mais de 50 anos, sabemos que coisas objetivamente apresentadas por mais tempo em uma tela são mais lembradas”, diz o coautor do estudo Martin Wiener, neurocientista cognitivo da Universidade George Mason em Fairfax, Virgínia, à Natureza. “Isso mostra pela primeira vez que um intervalo mais longo experimentado subjetivamente também é mais bem lembrado.”
Imagens bagunçadas diminuem a percepção do tempo
No corpo humano, não existe um órgão sensorial dedicado à acordo do tempo, ou seja, que estamos diretamente relacionados à forma como percebemos o tempo acontecendo. Portanto, todos os órgãos sensoriais (pele, língua, nariz, ouvidos e olhos) podem transmitir uma informação temporal, conforme explicado Virgine van Wassenhove, neurocientista cognitiva da Universidade de Paris-Saclay em Essonne, França.
Pesquisas anteriores já mostraram que as características de uma imagem, como núcleos e contraste, podem alterar a percepção das pessoas sobre o tempo gasto visualizando essa imagem. No novo estudo, os pesquisadores buscaram entender se memorização sobre uma imagem também poderia ter o mesmo efeito na percepção de tempo.
Para isso, os cientistas uniram 252 imagens, que variavam de acordo com o tamanho da cena e a desordem, ou seja, o quão confusa uma imagem se apresentava. Depois, os pesquisadores desenvolveram testes para determinar essas características afetavam a noção de tempo em 52 participantes.
Para entender melhor, um exemplo é a imagem de um armário bem abastecido, mas em um tamanho menor e mais desordenado do que uma imagem de um armário vazio. Cada imagem foi mostrada aos participantes por menos de um segundo. Em seguida, foi solicitado a eles que classificassem as imagens como “longa” ou “curta”.
Ao visualizar imagens maiores e menos confusas, a tendência era que os participantes achassem que tinham visto uma imagem por mais tempo (dilatação do tempo). Por outro lado, ao visualizar imagens em menor escala e maior desordem, o efeito contrário ocorria: eles pensaram ter visto a imagem por menos tempo do que realmente tinham visto (constrição do tempo).
Para os pesquisadores, isso pode ocorrer por duas razões possíveis: a desordem visual pode ser percebida como algo mais difícil de se navegar, ou seja, de ser explorada; ou, então, uma desordem prejudica a capacidade de consideração de objetos, tornando mais difícil codificar mentalmente a informação visual. Tudo isso poderia levar à constrição do tempo.
Imagens memoráveis também influenciam a percepção do tempo
A pesquisa mostrou, ainda, que imagens memoráveis também exercem um efeito na percepção de tempo. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores apresentaram a 48 participantes um conjunto de 196 imagens de acordo com a sua memorabilidade por uma rede neural.
De acordo com o estudo, os participantes experimentaram a dilatação do tempo ao olhar para imagens memoráveis e tiveram uma maior propensão de se lembrar dessas imagens no dia seguinte.
Em seguida, as imagens foram aplicadas a um modelo de rede neural do sistema visual humano, que poderia fornecer informações ao longo do tempo. O modelo processou imagens mais memoráveis de forma mais rápida do que menos memoráveis.
De acordo com os autores do estudo, um processo semelhante no cérebro humano pode ser responsável pelo efeito de dilatação do tempo quando se olha para uma imagem perfeita.
“Isso sugere que usemos o tempo para coletar informações sobre o mundo que nos rodeia e, quando vemos algo que é mais importante, dilatamos nossa noção de tempo para obter mais informações”, diz Wiener.
No entanto, ainda existem dúvidas sobre como as pessoas percebem o tempo e como essa percepção interage com a memória. Por isso, o próximo passo dos pesquisadores é validar os resultados da pesquisa com uma amostra maior de participantes e refinar o modelo de sistema visual.
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