A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de reduzir a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual (pp) — para 10,75% ao ano — era extremamente esperado pelo mercado. Mas, para especialistas ouvidos pela CNNo tom do comunicado da autoridade deixa em aberto próximos passos na condução da política monetária.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, avalia que um novo corte da mesma magnitude ainda é esperado para o próximo encontro do Comitê, marcado para maio. No entanto, destaca que o BC deixou “jogo em aberto” para o mês de junho.
Na publicação, a autarquia avaliou que o cenário-base não sofreu mudanças substanciais. Além disso, pontua um aumento da incerteza e da necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária.
“Se não se alterou vantajoso, realmente significa que um corte 50 pontos-base em junho ainda é possível, mesmo que essa tese tenha perdido força”, diz.
O analista chama a atenção para o trecho do comunicado no qual o Copom deixou no singular a perspectiva de nova redução de 0,5 ponto.
“Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, por unanimidade, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião”, informou. o BC em nota.
Nas comunicações anteriores, o colegiado citava “próximas reuniões”.
“Essa troca de plural pelo singular é um indicativo de que a gente pode ter uma redução do ritmo de flexibilização a partir de junho, ou seja, podemos fixar esse semestre em 10% em vez de 9,75%”, diz Spiess.
Mas o especialista reitera que a leitura não dá muitas pistas sobre um terminal Selic, apenas indica que um título monetário será mais gradual no processo de flexibilização.
Segundo dados do Boletim Focus, pesquisa do BC que reúne a mediana de mais de uma centena de agentes do mercado e instituições para os principais indicadores econômicos, divulgados nesta segunda-feira (18), a taxa de juros deve chegar a 9% ao fim de 2024, a mesma previsão das últimas 12 semanas.
“A gente pode ter, sim, mais um corte em junho, porque o BC pode, na próxima reunião, antes de um corte de mesma magnitude para a próxima reunião, no singular de novo. E ele foi conservador, foi cauteloso e, de certo modo, podemos entender que essa é uma resposta aos dados que tivemos de inflação no início do ano”, acrescenta.
Na mesma linha, Marco Caruso, economista-chefe do PicPay, avaliou que a sinalização do BC foi cautelosa, mas interpreta que, possivelmente, a expectativa para a Selic após o término do afrouxamento monetário deve permanecer a mesma.
“A sensação que dá é que o Copom continua imaginando o mesmo ponto final da Selic, por isso ele disse que o cenário-base não se alterou totalmente — algo próximo a algum número que ele não diz, obviamente, qual é. Mas, a priori, seria o mesmo número terminal do Selic”, afirma.
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, a análise do cenário doméstico pelo BC mantém o caminho aberto para a continuação do ciclo de cortes no ritmo atual, e adia, provavelmente, uma discussão sobre desaceleração para o fim do primeiro semestre.
Um economista afirma que o volume do comunicado foi um pouco mais hawkish — ou seja, duro no combate à alta de juros.
“Mantemos nossa expectativa de cortes de 50 pontos-base até a reunião de junho, quando esperamos que o Copom reduza o ritmo de cortes para 25 pontos-base por reunião. Entretanto, isto está condicionado à continuidade do processo de desinflação, em linha com o nosso cenário base, que prevê um IPCA de 3,9% ao fim de 2024”, conclui.
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