O consumo de bebidas alcoólicas no Brasil encheu um total de 104,8 mil mortes em 2019 no Brasilo que equivale a uma média de 12 óbitos por hora. Dado é de estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília, a pedido das organizações Vital Strategies e ACT Promoção da Saúde, como parte da iniciativa RESET Álcool. O trabalho foi divulgado nesta terça-feira (5).
Intitulado “Estimativa dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo de álcool no Brasil“, o estudo mostrou que o consumo de álcool representou um custo para o Brasil da ordem de R$ 18,8 bilhões apenas em 2019. Deste total, R$ 1,1 bilhão referem-se aos custos federais diretos com hospitalizações e procedimentos ambulatoriais no Sistema Único de Saúde (SUS).
Além disso, os custos indiretos atribuíveis ao consumo de álcool compreenderam R$ 17,7 bilhões e estão relacionados às perdas de produtividade pela mortalidade prematura, licenças e aposentadorias precoces decorrentes de doenças associadas ao consumo, perda de dias de trabalho por internação hospitalar e licença médica previdenciária.
Há, ainda, o custo previdenciário dentro das estimativas indiretas de custo atribuíveis ao álcool, que atingiu R$ 47,2 milhões em 2019. Do total, 78% (R$ 37 milhões) foram referentes a gastos com o público masculino, enquanto 22 % relacionado às mulheres (R$ 10,2 milhões).
O estudo foi feito a partir de estimativas de mortes atribuíveis ao álcool feitas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e levou em consideração para o cálculo de custo total de 104,8 mil mortes ocorridas em 2019 no Brasil.
“Podemos concluir com o estudo que o consumo de álcool no Brasil tem impactos significativos na saúde e no bem-estar da população e, consequentemente, custa muito caro aos cofres públicos”, afirma Pedro de Paula, diretor-executivo da Vital Strategies, em comunicado.
“Nesse cenário, fica clara a necessidade de adoção de medidas como o imposto seletivo sobre bebidas alcoólicas. Essa é uma das ações recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para reduzir o consumo de álcool e, consequentemente, seu impacto negativo. Com a redução do consumo, podemos salvar vidas e reduzir os impactos sociais do álcool, economizando bilhões de reais todos os anos”, acrescenta.
Homens representam 86% das mortes relacionadas ao álcool
De acordo com o levantamento, os homens são as principais vítimas do consumo de álcool, representando 86% das mortes. Do total, quase a metade dos óbitos foi decorrente de doenças cardiovascularesacidentes e violência.
Já no público feminino, que responde por 14% dos registros fatais, os malefícios do álcool estão relacionados a doenças cardiovasculares e diferentes tipos de câncer para 60% dos casos.
Além disso, o custo do SUS com a hospitalização de mulheres devido às complicações relacionadas ao álcool é menor do que o custo com o público masculino: apenas 20% do total. Isso acontece porque a prevalência do consumo de bebidas alcoólicas por mulheres é menor, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNAS 2019).
Além disso, as mulheres procuram mais os serviços de saúde e realizam mais exames de rotina fazer que os homens, aumentando a detecção precoce de doenças graves e o tratamento adequado.
“Quando os homens procuram o serviço de saúde possivelmente já estão com uma saúde muito mais comprometida, o que acarreta mais hospitalizações”, afirma Eduardo Nilson, pesquisador da Fiocruz e responsável pelo estudo.
Quando se trata de custos relacionados ao atendimento ambulatorial atribuível à ingestão de álcool, a diferença entre os públicos masculino e feminino cai significativamente, considerando que 51,6% dos custos se referem ao público masculino.
“Isso confirma que as mulheres buscam atendimento mais precocemente do que os homens: elas são responsáveis por quase metade dos atendimentos ambulatoriais, mesmo com a prevalência de consumo de álcool entre elas seja menor”, explica Nilson.
Apesar dos dados, o consumo abusivo de álcool entre as mulheres tem crescido. De acordo com dados do Vigitel, a ocorrência de episódios de abuso (quatro ou mais bebidas em uma mesma ocasião) quase dobrou no público feminino entre 2006 e 2023.
“Essa mudança comportamental traz um sinal de alerta para uma tendência de aumento na quantidade de pessoas consumindo álcool no Brasil impulsionado pelo consumo das mulheres e, consequentemente, dos seus impactos para a saúde e em custos aos cofres públicos. É preciso um olhar muito cuidadoso para a população feminina a fim de frear esse crescimento estimulado por mudanças culturais e pelo esforço próprio da indústria de bebidas em deixarem seus produtos com um apelo mais unissex”, comenta Luciana Sardinha, diretora adjunta de Doenças Crônicas não Transmissíveis da Estratégias Vitais.
Como o estudo foi feito?
O estudo da Fiocruz foi baseado em uma metodologia de análise comparativa de risco que estima as frações atribuíveis a uma exposição (fator de risco ou proteção) em relação aos estágios de saúde causados diretamente por esta exposição.
Foram consideradas as doenças e mortes associadas ao consumo de álcool com uma relação dose-resposta entre a quantidade consumida de álcool e o risco relativo aos desfechos a partir de metanálises publicadas e utilizadas pelo estudo de Carga Global da Doença (GBD – Global Burden of Disease) e pela OMS.
A estimativa da carga atribuível a cada doença foi feita em conjunto com a prevalência de consumo de álcool para cada grupo de sexo e idade.
As informações sobre custos diretos foram obtidas em bases de dados públicos, como sistemas de informação em saúde e relatórios e microdados de pesquisas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os custos diretamente atribuíveis ao consumo do álcool incluíam informações do SUS provenientes de dados de internações hospitalares (Sistema de Informações Hospitalares – SIH/SUS) e de procedimentos ambulatoriais (Sistema de Informações Ambulatoriais – SIA/SUS), desagregados por tipo de doença atribuível ao consumo de álcool, sexo e idade.
No entanto, os investigadores salientam que o estudo fez com que as estimativas incluíssem dados ao nível nacional, não incluindo complementos de custos por estados e municípios. Além disso, o levantamento não considera os custos da rede privada de saúde nem o total de perdas econômicas para a sociedade.
“Portanto, embora quase 19 bilhões de reais por ano já seja uma cifra extremamente significativa, o custo real do consumo de álcool para a sociedade brasileira é provavelmente ainda muito maior”, afirma Eduardo Nilson, pesquisador responsável pelo estudo.
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